sábado, outubro 20, 2007

Quase 6 kg de papel...

... e muitas, muitas palavras escritas.
Muitas eram promessas, outras elogios.
Algumas palavras de repreensão, outras de concordância.
Várias eram referentes a planos para o futuro, muitas outras para relembrar o passado.
Umas eram palavras de outros, encaminhadas com a finalidade de dizer algo específico.
Muitas poesias, outras letras de canções, ditas para celebrar o sentimento que existia naquele momento.
Todas ditas por uma única pessoa.

Durante um bom tempo, na verdade alguns anos, fui como que prisioneira dessas palavras.
E as guardava num canto em um armário, em pastas e saquinhos plásticos.
Em vários momentos olhei para elas, e me perguntei: por que vocês ainda estão aqui?
Em todas as vezes não soube responder.
Exceto num dia de domingo, mais precisamente no dia 02/09 desse ano.
Acordei com uma daquelas sensações estranhas de "há algo que não sei o que é mas que precisa ser feito" que vêm sobre mim de vez em quando...
E quando isso acontece, um coisa eu sei: preciso me "libertar" de alguma coisa.
Mas do quê?

Levantei quase com o dia se transformando em tarde, com toda a preguiça e vagareza peculiares às horas estendidas na cama.
Fiz o mesmo "ritual" de sempre do despertar: fui ao banheiro, dei os beijos e afagadas nos caninos, fiz o café, tomei o café na frente da televisão, liguei o computador.
Ao meu lado, "o" armário. Dentro de mim, "aquela" sensação.
Olhei pro armário, abri uma de suas portas, e lá estava o motivo daquela estranha sensação: as palavras.
Todas arrumadinhas naquele canto.
Naquele momento não tive mais dúvidas.
Num capricho, levei-as até a balança do banheiro: quase 6kg!
Mas não me surpeendi...
Dentro de mim algo queimava...

Palavras são como fogo (dependendo de como são ditas), já diziam muitos poetas.
E foi nesse momento que eu soube o que tinha que fazer.
Nenhuma dúvida, nenhum sentimento de perda, nenhuma "sensação estranha" mais...
Só a certeza de que só o fogo poderia ser capaz de colocar um ponto final naquela fase da minha vida, materializada ali por aqueles quase 6kg de papel.

Retirei as folhas dos seus saquinhos e pastas.


Rasguei todas elas em quatro partes.



Improvisei uma fornalha, e as dispus dentro dela.



Lentamente o fogo iniciou seu processo.



Mas logo se intensificou.


Não preciso nem dizer, mas é claro que tudo se transformou em um monte de cinzas.
Mas a imagem das cinzas não precisa ficar registrada.
Percebi que o que vivi foi importante.
Teve significado.
Me fez crescer.
Hoje faz parte de mim, da minha história.

O fogo "limpou e purificou" todo resquício de qualquer sentimento ruim.
As cinzas foram levadas pelo vento.
As lembranças boas e o aprendizado ficam.
Pra sempre, enquanto eu viver.