segunda-feira, abril 16, 2007

A dor e a perda

A dor é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação orgânica e emocional.
(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)

Excruciante. Me detive nessa palavra que ajuda a definir a sensação que chamamos de Dor.
No dicionário on line encontrei a palavra "torturante", usada para definí-la.

Há dois dias atrás, no último plantão, conheci uma jovem mulher que conheceu bem o significado da dor, definida como está acima. No corpo e na alma.
No meio da gestação recebeu o diagnóstico, através da ultrassonografia, que o seu bebê tinha sérios problemas renais e pulmonares. Não sobreviveria muito tempo depois do nascimento.
Ela, como qualquer mãe que deseja muito o filho, entrou naquela fase que chamamos de negação. Recusou-se a acreditar, em todo o tempo, que tal diagnóstico fosse verdadeiro.
Enfrentou, no corpo, as dores do trabalho de parto até a tão desejada "anestesia do parto", que chamamos de Analgesia.
Poucas horas depois do nascimento, depois de ficar cerca de meia hora com seu pequeno bebê nos braços -ele respirava com muita dificuldade auxiliado por um fino catéter de oxigênio-, ela recebeu a notícia de que tanto fugiu durante vários meses: seu bebê não tinha resistido às malformações de seu corpo. E então enfrentou a dor na alma. Essa sim, mais torturante que a física.
Amparada pelo companheiro, pela mãe e pela sogra, conseguiu dizer apenas uma palavra: "por quê"?

Por que perdemos o que desejamos?
Por que perdemos o que temos?
Por que perdemos o que amamos?
Por que perdemos quem amamos?
Por que a perda?

De acordo com o mesmo dicionário on line, dentre outros significados, perda é:
privação de coisa que se possuía;
extravio;
desaparecimento;
desgraça;
dano;
prejuízo;
ruína.
Todas palavras muito fortes. Difícil, muito difícil falar sobre elas.

Mas numa tentativa limitada e simplória, me detenho no primeiro conjunto de palavras usado para definir a perda: "privação de coisa que se possuía".
Com certeza, prá essa jovem mulher, essa seria a definição perfeita.
Como realizar o fato de que nunca mais será possível ter e ver seu filho, desejado e esperado?

Sei que não se deve mensurar dor e perda. Cada um sente e reage de um jeito. O que é grande prá mim, pode ser pequeno prá você, e vice-versa.
Mas mesmo sabendo disso, me atrevo a dizer que nunca senti tamanha dor, nem sofri tamanha perda. Não sei como reagiria. Não sei o que diria.

Sei apenas o que senti e o que vi naquela difícil e longa madrugada.
Vi pessoas cujo amor esfriou. Que passaram de largo, que não se compadeceram.
Mas vi gente, que como eu, sentiu o coração apertar e doer, como se aquela dor da alma e aquela perda também fossem nossas.

"No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo", disse o Senhor.
Minha oração é que a verdade dessa Palavra invada os corações daquela família, e o meu coração também.
E que a "Paz que excede todo o entendimento, inunde os nossos corações, em Cristo Jesus", porque provavelmente jamais conseguiremos compreender o por que das muitas dores e perdas que sofremos.
E também das que ainda, com certeza, sofreremos nesse mundo excruciante.

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