terça-feira, janeiro 30, 2007

A História da Lagartixa de Estimação

Como tinha prometido, há um post atrás, aí vai a história da minha lagartixa de estimação...

Eu tinha uns 10 anos, não mais que isso. Morava em uma casa grande, com um quintal muito grande, lá na Ilha do Governador, no Rio. Sempre gostei muito de bicho. Bicho de tudo quanto era jeito. Uns estranhos, assumo. E por causa desses minha mãe vivia tendo "trecos". E, claro, queria ser médica veterinária quando crescesse... Mas isso é outra história...
Voltemos à lagartixa. Ela tinha um nome, que hoje já não me lembro mais qual era...

Tudo começou quando meu avô materno chegou lá em casa no meio da tarde. Tinha andado pelo Centro do Rio toda a manhã, e foi lá em casa prá nos dar o beijo habitual.
Cansado, sentou-se no sofá da sala, e tirou os sapatos. De repente, de um dos pares, pulou a bichinha! Tonta, tadinha, e sem o rabo, claro. Ela não teve a reação de correr, somente respirava ofegante. Difícil de acreditar, mas ela passou aquele tempo todo dentro do sapato do meu avô!
E só não morreu, porque o modelo do sapato era aquele legítimo 752 da Vulcabrás (alguém lembra?)!!! Aquele que tinha uma ponta bem grandona, onde provavelmente ela se alojou durante todo aquele tempo.
Impressionante ter sobrevivido sem ar! Melhor, impressionante ela ter sobrevivido com aquele cheiro (meu avô tinha um chulé de dar inveja ao queijo gorgonzola!)...

Condoída por causa do estado da coitada, mais do que depressa peguei-a e comecei a acariciar-lhe a cabecinha. Neste meio tempo, meu avô ia me explicando que as lagartixas soltam o rabo quando se sentem ameaçadas, ou quando estão com medo. Mas a boa notícia era que o rabo crescia de novo! Ah, fiquei radiante! E o bico de tristeza deu logo lugar à um sorrisão!
Ela foi se acalmando e respirando mais devagar, sem sair da minha mão.

E foi aí que eu tive a grande idéia: ela precisava de leite! Assim seu rabo cresceria mais rápido! Eu tinha aprendido na escola que leite era bom para os ossos, e para o nosso crescimento. Nosso, humano, hoje não tenho dúvidas. Mas naquela época, prá mim, o que era bom para os humanos era bom também para os bichos.

E não é que a bichinha a-do-rou o leitinho??? Coloquei uma colherzinha de leite num pratinho de brinquedo, da minha imensa coleção de coisinhas de cozinha. Ela tomou tudinho!
E foi assim por vários dias...

E o rabo ia crescendo! Uma belezinha! De manhã eu colocava o leitinho no pratinho, em cima da mesinha de cabeceira. Ela descia lá do alto da parede do quarto, perto do teto, tomava o leite, ficava um pouquinho na minha mão, enquanto eu fazia o carinho em sua cabecinha, e depois sumia. Ia caçar aranhas, drosófilas e mosquinhas, com certeza! Meu avô me ensinou a olhar a barriguinha dela. Era meio transparente, e quando comia algum inseto dava prá ver.
Minha mãe achava aquilo tudo muito nojento, claro, mas meu avô se divertia.
E foi essa a minha rotina por umas duas ou três semanas, acho.

Até que um dia, ao acordar, não vi minha lagartixa na parede. Procurei por todos os lugares, em vão.
Aí, chorando, fui até minha mãe e disse: " Você matou minha lagartixa!!!" Um pranto total, lembro como se fosse ontem. E por mais que minha mãe negasse o "lagarticídio", e tentasse me consolar, eu chorava mais ainda. Decidi ficar "de mal" dela, até.
Quem foi o salvador da pátria? Meu avô, evidentemente.
Foi até minha casa, me pôs no colo e disse que provavelmente a bichinha tinha sumido prá poder "morrer em paz". (Que lorota, não?!) E que minha mãe jamais seria capaz de matar um bichinho que eu gostasse tanto... (Mentira, claro!)
Acalmados os ânimos, fiquei "de bem" da minha mãe de novo. Afinal, meu avô entendia tudo de bicho, e eu acreditava totalmente nele.
Bem, hoje sei que ele mentiu prá mim, porque lagartixas vivem bastante, mas entendo que a mentira se fez necessária, naquela época.

Tenho uma amiga, a Mica, que só de ver esse desenho ilustrativo daí de cima, sai correndo mais rápido que o pápa-léguas e grita mais alto do que qualquer outra mulher que viu um grupo de baratas, por exemplo. Mas eu gosto das bichinhas até hoje.

Nunca mais tive uma de estimação. Mas essa história vai ficar prá sempre na minha memória, como muitas outras da minha infância, tão rica e saudosa. Em grande parte, graças ao meu avô, parceiro de esquisitices, contador de estórias e causos sensacionais, e amigo de traquinagens.
Sem ele meus dias de criança teriam sido sem-graça e quase sem imaginação, com certeza!

Não chorei por muito tempo a ausência da minha lagartixa, pois logo depois minha atenção se voltou ao novo "bicho estranho de estimação", que chegou pouco tempo depois: um pintinho.

Mas isso também é uma outra história... ;-)


4 comentários:

Terraestranhae disse...

não sei se acho essa história engraçada, legal, nojenta ou completamente sem noção.

Beijos, fica com Deus.

F. disse...

Não sei se te respondo, se fico quieta, ou se simplesmente só acho graça desse seu comentário! ;)Beijos, fica com Deus vc também!

Terraestranhae disse...

Ficar quieta?! Você?!!!

F. disse...

Estou em processo de evolução, Doc! ;)