sábado, dezembro 09, 2006


Estava lendo um artigo de Lya Luft nesta madrugada, de nome "Trangressões Positivas", quando a indagação de um empresário feita à ela durante um almoço, bem como sua resposta, chamaram a minha atenção.
A pergunta: "Quantas vezes a senhora acha que a gente pode amar na vida?"
A resposta: "Sempre que nos sentirmos demais sozinhos e a vida nos oferecer esse milagre, e a gente tiver as condições e a coragem de o concretizar."

O fato é que estas linhas me incomodaram, e me fizeram pensar.
Pensei, e concluí que não concordo com a resposta em sua íntegra...

Concordo que o amor que ressurge- mesmo em corações maltratados e que um dia já sofreram alguns tipos de machucados, como o meu- pode ser considerado um milagre.
Sim, concordo que é necessário ter coragem, de certa forma, para deixar o amor que ressurge tomar o seu lugar em nós, sem medo e receios, e sem comparações com os anteriores.

Mas quais são as "condições ideais" para isso?
Será necessário se sentir "demais sozinho" prá gente perceber a necessidade de amar novamente, e então permitir que esse sentimento tome conta de nós de novo?
Ao pensar em "condições ideais", lembro na hora de receita; tipo receita de bolo, sabe?
A gente vive num tempo onde se tem receita prá tudo.
Tem "livro de receitas" prá todos os gostos, como por exemplo:
300 passos para ter um casamento feliz; como encontrar o verdadeiro amor; 100 dicas para administrar com eficiência a casa e os negócios; como educar filhos (e prá estes ainda tem a especificação de como educar meninos, e separadamente, de como educar meninas!); 10 passos para receber o Espírito-Santo, e por aí vai...
Livros como estes invadem as prateleiras das Livrarias convencionais e também as virtuais.

Nada contra quem procura ajuda nestes tipos de livros. Afinal, estamos sempre em busca do acerto, não é mesmo? O problema é quando isso se torna um hábito vicioso, tipo horóscopo (eca!), quando a pessoa não consegue mais tomar nenhuma decisão por si própria, sem antes dar uma consultadazinha prá saber se vai ou não, se pode ou não, se os passos para conseguir isso ou aquilo estão sendo aplicados corretamente, etc...

É inevitável lembrar que- numa época nem tão distante assim desse mundo globalizado e cada dia mais esquisito em que vivemos- ouvíamos mais os mais velhos e seus conselhos sábios baseados em suas experiências práticas de vida, e líamos mais Provérbios...

Tínhamos opinião própria, sabíamos defendê-la quando necessário, e tínhamos um discreto orgulho disso.
Hoje temos receio de tudo.
Temos medo de que os outros não nos entendam, de que pensem mal à nosso respeito, de que nos afastem por não estarmos incluídos neste ou naquele modo de pensar enlatado, típico da maioria.
E não paramos para pensar no estrago que todos esses temores podem causar à nossa alma...

Perdemos gradativamente a nossa identidade; nossa individualidade vai furtivamente sendo roubada, inacreditavelmente, por nós mesmos.
Mas não é justamente isso, além das nossas impressões digitais e da nossa cadeia de DNA, que nos faz maravilhosamente diferentes?
E não é essa diferença que permite muitas vezes que nos encantemos, nos apaixonemos, e que amemos tão intensamente alguém?

Apesar de ser fã da Lya, necessito discordar dela.

O amor é algo que surge muitas vezes quando menos esperamos. Não é algo que se possa programar.
E esse sentimento toma conta de tudo em nós.
O que podemos é permitir que ele ache morada em nós, ou não.

É inevitável sentir medo e receio de onde ele vai nos levar.
É incômoda a incerteza se teremos um final feliz como em muitos romances de Hollywood, onde a mocinha sempre fica com o mocinho depois de alguns desencontros, é claro.
Mas é essencial amar.
Faz parte de nós, como um órgão vital.
Deus nos fez assim, e declarou na sua Palavra que "não é bom que o homem fique só".
É bem aceitável sentirmos uma certa "inveja gospel" de Adão e Eva. Afinal, estes sim, foram feitos um para o outro! Rs...

Mas eu creio, com toda a força desse meu coração já costurado e remoldado por Ele tantas vezes, que a realização da plenitude desse sentimento será possível um dia na minha, e na vida de todos os que me cercam.
Gostaria que já estivesse sendo, mas Ele sabe de todas as coisas, e eu confio nEle.

Não há nada melhor nesse mundo do que essa estranha e doce sensação, que nos invade quando amamos.
Sem premeditações. Sem rótulos. Sem receitas. Sem condições prévias.
Mesmo com os medos, com os receios e com as incertezas.

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