terça-feira, dezembro 12, 2006

"Realidade versus teoria"

Por Steven D. Levitt

A diferença entre "teoricamente possível e "importante"

"Os acadêmicos, incluindo eu mesmo, adoram descobrir argumentos contra-intuitivos que mudam a maneira como as pessoas vêem o mundo. A mídia provavelmente adora publicar matérias baseadas nesses argumentos, ainda mais do que os acadêmicos gostam de descobri-los. Às vezes, porém, esses mesmos acadêmicos e o pessoal da mídia prestam um desserviço ao público em geral, ao levantar questões que são teoricamente possíveis, mas na realidade não têm a menor importância.

Um artigo recente na revista "Time" é um ótimo exemplo. Nele, o autor examina a idéia de que os cintos de segurança nos carros talvez não sejam eficazes para salvar vidas. Segundo a reportagem, a teoria é que os motoristas tornam-se mais ousados quando estão presos pelo cinto porque se sentem mais seguros. O efeito dessa "compensação de risco", segundo o artigo, poderia reduzir - ou mesmo reverter - os benefícios de segurança dos cintos.

É uma teoria sensata. Quando não estou afivelado corro um risco maior de ferimentos, por isso talvez dirija mais cautelosamente. Na economia, essa idéia é atribuída a meu amigo e colega Sam "Seatbelt Sammy" Peltzman, um professor de economia na escola de graduação em administração da Universidade de Chicago, que a apresentou nos anos 70. Os economistas chamam essa tendência de "Efeito Peltzman".

Na prática, porém, há claras evidências de que os cintos de segurança são uma maneira incrivelmente eficaz e econômica de salvar vidas. Por exemplo, em 2001 meu colega Jack Porter e eu publicamos um estudo que mostrava que os cintos de segurança eram mais custo-eficientes para salvar vidas em acidentes de carro do que os airbags.

O pequeno impacto compensador que pode haver em dirigir mais arriscadamente porque você está usando um cinto de segurança é trivial comparado aos benefícios de usá-lo. Artigos como esse da "Time" podem encorajar as pessoas a tirar a conclusão errada sobre o assunto. Se, no entanto, eu estiver errado e o comportamento compensatório dos motoristas realmente reverter os benefícios dos cintos de segurança, existe uma fácil solução de política pública semelhante a uma idéia mencionada na matéria da "Time".

Os governos poderiam exigir que se instalasse em todos os volantes uma faca afiada, apontada diretamente para o coração do motorista. Imagine como ele dirigiria cuidadosamente."

Eu que o diga! Rs...

1 comentário:

F. disse...

Artigo publicado na página Freakonomics, na Uol Mídia Global, em 12/12/06.